Assim que começaram as férias escolares, Denilsinho veio passá-las aqui em casa. Me disse>
-Vó, eu estava ansioso para vir, porque quero pesquisar as iguanas. pra vir pedi ao papai e a mamãe desde setembro. Eles não gostaram muito, mas deixaram. Sei que vai ser um fim de ano muito feliz, pra nós, vó.
-Será, sim, meu netinho, Será sim.
E ele mal soltou a mala e mochila, se mandou pra fora, direto para perto da cerca. Acompanhei-o com o olhar. parou em frente às iguanas que degustavam a lauta refeição herbária. De lá ele me perguntou quase gritando,
-vó, iguana come formiga, lagarta, gafanhoto, joaninha, viuvinha...?
-Não sei, vó. Nunca tive a ideia de reparar flores, já as vi comendo. Saberíamos se ficássemos na cola dela, no mínimo por seis horas e todos os dias. Ele soltou uma gargalhada e disse
-Verdade, vó. Vou escoltá-la do amanhecer ao entardecer. No ano passado, percebi que como nós,
ela dorme á noite. Então, durante o dia dá pra descobrir isso. Saí daqui pensando em pesquisar no computador, sobre iguanas, mas terminei me passando!
Voltei-me às tarefas domésticas daí a instantes,Ouvi os gritos de Denilsinho, a dizer
Pare, pare! Você não pode pegar o bichinho, não.
Corri pra lá , ouvi um menino dizendo
-Vou pegar sim. Quem é vosmicê, pra me proibir?
-Sou neto do dono desta propriedade. As iguanas estão na parte de dentro da propriedade, e você não vai pegar.
Ah, num vou, não,é? vamo vê intão.
Partiu um galho de árvore e foi pra cima de Denilsinho, igual a uma fera. gritei deixa a bichinha em paz, seu atrevido! Felizmente, obedeceu. Soltou o galho no chã e arriou os braços, baixando a cabeça. com esses gestos, levou-me a crer ser um bom menino. Estava somente sendo malcriado. Virou-se pra ir embora.
espere. com se chama? É filho de quem?
-sou Nelito. Fio de Calixto apilidado de Ninil. E de Pureza.
-não os conheço. Onde vocês moram?
No Jacarandá.
Sei onde fica. E você sai de tão longe pra incomodar os animais na propriedade alheia? A que horas saiu de lá? Seus pais sabem disso? Você não estuda? A sinhra pregunta muita coisa de u'a veiz só, dona! Saí ante das seis sora, iscundido deles, pruque já tou de féras. Papai é carpintero e me bota pra ajudar no selviço, pra aprendê a profissão. Eu num quero, não.
Ele está certo. Se você estivesse ajudando seu pai, não correria o risco de fazer a confusão que quase cometeu! Ao invés de ajudar a ele, acha certo armar a confusão que quase armou?
-Só sei qui ele tá errado. Tenho o Istatuto da Criança e do Adolecente Sei qui lugar de criança, é na iscola.
-Ah, é na escola, é? Mas pelo que ouço e vejo, você não presta a devida atenção nas aulas. seu pai quer que você aprenda uma profissão para se sustentar quando estiver rapaz, custear a faculdade, pra ter a vida melhor que a dele. Vou com você falar com ele, o que você acabou de fazer.
-Não, dona. fai isso, não. Mamãe vai me botá de castigo! Ele e mamãe já me dissero qui nu'a terra cercada num se entra, não. Qui é crime.
-Pois é. por ser crime, posso prestar queixa contra seu pai
-Vai prestá queixa a quem, dona? papai num tem pai nem mãe,mai. Morrero.
Começou a chorar de cabeça baixa. Vi pelo semblante de Denilsinho,que estava comovido. Me enterneci também.
-Tá certo. não presto queixa contra seu pai. Afinal, o errado não é ele.Cometerei uma injustiça se isso eu fizer.Vamos me leva até sua casa. Não devo deixar de dizer-lhe o que seu filho faz quando foge. Será que só molesta iguana, ou faz outras traquinanças , rapazinho? Mas...vais me prometer com sua palavra de menino decente, que não vai mais sair por aí, molestando animais... e, nunca mais vai fugir pra não ajudar seu pai. É agora em criança, que será formado o adulto consciente e integro, acolhendo e desempenhando o que seu pai lhe ensina. Só não posso, não devo deixar de comunicar-lhe o que você fez. Como mãe,e avó, sei disso estria cometendo um grave erro para seu caráter, nos seus demandos, amanhã. Não. disso não serei responsável.
-Denilsinho, calce as botas, ponha um chapéu.
O sol reina pleno!
Felizmente o vento está a mil.
Deixando o ar ameno!
Vamos conhecer seu Ninil.
Vamos, vamos. Não quero voltar sozinha.